Em nosso tempo atual, repleto de transformações tecnológicas, permeado pelas efemeridades e predomínio da velocidade, penso em qual é o tempo da memória. E recordo que muitos artistas contemporâneos integram à sua pesquisa e produção essa temática. A pesquisadora Katia Canton desenvolve impressões sobre este interesse, sobre um cultivo da memória como possibilidade de resistência, recriação e reordenamento do existir:
A memória, condição básica de nossa humanidade, tornou-se uma das
grandes molduras da produção artística contemporânea, sobretudo a
partir dos anos 1990. Nesse momento, proliferam obras de arte que
propõem regimes de percepção que suspendem e prolongam o tempo,
atribuindo-lhe densidade, agindo como uma forma de resistência à
fugacidade que teima em nos situar num espaço de fosforescência, de
uma semiamnésia gerada pelo excesso de estímulos e de informação
diária. (p. 21).
Quando busco as lembranças sobre arte e memória, lembro de exposições que visitei e do que ficou em mim atravessando os tempos. O “Claviculário” de Elida Tesler é uma obra composta por um quarto repleto de chaves. Estão penduradas cerca de 3000 chaves nos ganchos e cada chave possui uma palavra gravada. As palavras integram uma carta (pelo que soube na época que vi a obra, eram palavras de uma carta da mãe da artista). Esse registro privado é resignificado e, apesar das palavras serem exibidas ao público, o teor da carta ainda mantém sua condição de segredo.