claviculario

A Arte no tear da memória

Partindo de nosso artigo da semana passada, sobre os começos, saímos da pré-história e buscamos algumas chaves. Chegamos ao século XXI: tecnológico, virtual, veloz, interconectado. Época do proliferar de imagens, monitores, aplicativos, da miríade de notícias percorrendo caminhos, da fartura de informações circulando pelos canais das redes sociais. Modelos, padrões, tendências, ganham forma em nossos computadores e celulares inteligentes. Milhões de resultados aparecem em um clique e, em um piscar de olhos, são dissipados nas nuvens do ciberespaço. Sociedade hedonista, do consumo, do espetáculo, do mundo das coisas, que devem ser rapidamente consumidas e substituídas por outras sem cessar.

Em nosso tempo atual, repleto de transformações tecnológicas, permeado pelas efemeridades e predomínio da velocidade, penso em qual é o tempo da memória. E recordo que muitos artistas contemporâneos integram à sua pesquisa e produção essa temática. A pesquisadora Katia Canton desenvolve impressões sobre este interesse, sobre um cultivo da memória como possibilidade de resistência, recriação e reordenamento do existir:

A memória, condição básica de nossa humanidade, tornou-se uma das
grandes molduras da produção artística contemporânea, sobretudo a
partir dos anos 1990. Nesse momento, proliferam obras de arte que
propõem regimes de percepção que suspendem e prolongam o tempo,
atribuindo-lhe densidade, agindo como uma forma de resistência à
fugacidade que teima em nos situar num espaço de fosforescência, de
uma semiamnésia gerada pelo excesso de estímulos e de informação
diária. (p. 21).

Quando busco as lembranças sobre arte e memória, lembro de exposições que visitei e do que ficou em mim atravessando os tempos. O “Claviculário” de Elida Tesler é uma obra composta por um quarto repleto de chaves. Estão penduradas cerca de 3000 chaves nos ganchos e cada chave possui uma palavra gravada. As palavras integram uma carta (pelo que soube na época que vi a obra, eram palavras de uma carta da mãe da artista). Esse registro privado é resignificado e, apesar das palavras serem exibidas ao público, o teor da carta ainda mantém sua condição de segredo.

Ana Valeska Maia Magalhães

Advogada, graduada em Artes Visuais, graduanda em Psicologia, aluna da Escola de Psicoterapia Psicanalítica de Fortaleza e Mestre em Políticas Públicas e Sociedade pela UECE. Autora dos livros “Pulsão Irrefreável: arte contemporânea no feminino” e “Tessituras: em contos, crônicas, poesias e imagens”.

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Ana Valeska Maia Magalhães

Advogada, graduada em Artes Visuais, graduanda em Psicologia, aluna da Escola de Psicoterapia Psicanalítica de Fortaleza e Mestre em Políticas Públicas e Sociedade pela UECE. Autora dos livros “Pulsão Irrefreável: arte contemporânea no feminino” e “Tessituras: em contos, crônicas, poesias e imagens”.