Então passaram-se 50 anos. E um dos agentes secretos mais emblemáticos da história do cinema completara em 2012 meio século de missões contadas pelas lentes do exercício cinematográfico. A força da data talvez não tivesse reverberado tanto se “007 – Operação Skyfall” (2012) seguisse o irrisório refino percebido nos filmes do personagens ao longo dos anos 1990. O olhar atento do diretor Sam Mendes, no entanto, impediu que isso ocorresse.
E seguindo o projeto idealizado na metade da primeira década dos anos 2000, o sexto longa da carreira de Mendes mantém a potência que deu novo fôlego ao agente britânico no início desse século. Não em um sentido de negação ao que se fora proposto no passado, mas numa ideia do trabalho que assegura a vitalidade de um caractere que emerge no romance, eclode na tela e deixa sua marca na cultura pop.
Passadas as tramas de de “007 – Cassino Royale” (2006) e “007 – Quantum of Solace” (2008), James Bond (Daniel Craig) segue na procura por desmantelar a facção terrorista que ameaça a Europa com seus planos criminosos e descentralizados. No entanto, um atentado à sede do MI6, organização à qual Bond é vinculado, muda as regras do jogo, obrigando-os a uma nova ofensiva contra os planos do ciberterrorista Raoul Silva (Javier Barden), ex-agente do MI6 e expulso do grupo anos atrás.
É claro que, pegando à risca as linhas gerais do longa, (Silva) busca vingança pessoal contra sua ex superiora “M” (Judi Dench) e da mesma forma matar Bond. Entretanto, “Operação Skyfall” possui muitas outras camadas. E uma delas é a relação obra-diretor. Na verdade, o projeto de adaptação das estórias idealizadas por Ian Fleming segue, desde 2006, um percurso muito semelhante aos primeiros anos da franquia, iniciada por “007 contra o satânico Dr. No” (1962)
Isso porque os trabalhos se assumem claramente enquanto proposta. São filmes de ação, com atrizes (Bondgirls) deslumbrantes, e protagonistas/antagonistas que cumprem um bom papel, sendo críveis quando preciso, mas também entrando no jogo do “faz de conta”que cada trabalho pede, quando possível. Essas são, portanto, questões deliberadas pelos realizadores. E é aí que Sam Mendes entra com sua marca que autentica a realização para além do ponto comercial.
Estamos falando de técnica. O filme possui sim uma estrutura padrão, com seus pontos bastante definidos (problemas, reviravoltas, climax e resoluções) inequívocos. Mas sentimos a mão do diretor em trechos específicos. Como por exemplo, na primeira aparição de Silva, onde vemos um maravilhoso plano-sequência que lentamente nos dá a ver o personagem indigesto na medida em que dele ficamos mais próximos.
É uma bela maneira de por uma personagem na estória, através de um recurso eminentemente cinematográfico, próprio desse fazer artístico. É aí que Mendes afirma a originalidade da arte do cinema a partir de códigos que o legitimam enquanto linguagem. Não se trata de fetiche. O pensamento é aquele que vai ao encontro da primazia no exercício fílmico. De mostrar uma imagem em tudo o que ela tem de melhor: seu aspecto inventivo.
Estamos falando também de forma. E por debaixo das camadas que sugerem o filme de ação com sua falsa realidade apresentada, que tal metermos umas doses de naturalismo nas cenas de luta?! Se Bond briga com um espião em cima de um trem em movimento ou no andar de um prédio futurista em Macau (China), que não haja “piadinhas” após a performance. E assim Mendes fez. Falamos de um blockbuster, mas cada momento do filme é analiticamente pensado.
Interessante pensarmos “Operação Skyfall” como um projeto de contenção contra excessos. A ação contrabalanceada com os momentos de humor extremamente sutis. E isso garante igualmente o seu bom tom. Agradando aos entusiastas do cinema de gênero, e convidando essas mesmas pessoas a embarcarem nessa história. Porque nesse momento podemos deixar o conflito um pouco de lado. Sim, darmos uma “folga” ao filme cabeça e de hermética compreensão.
Gosto de pensar esse filme como quando nos damos conta que o próprio mundo nem sempre precisa ser levado tão a sério o tempo todo. E isso pode ter norteado o olhar de Sam Mendes. Libertando-o das amarras do complexo não-criativo e lhe permitindo idealizar esse importante trabalho. Uma vez que certamente daqui a mais 50 anos lembraremos com entusiasmo de 007 – Operação Skyfall.
FICHA TÉCNICA
Título Original: Skyfall
Gênero: Ação, Aventura, Thriller
Tempo de duração: 143 minutos
Ano de lançamento (Reino Unido/EUA ): 2012
Direção: Sam Mendes